sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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Em nome da tua ausência
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei.

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, "11 Poemas", Movimento, p. 17

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

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"Não bastam dias de sonho, semanas de paixão, meses de elevação e vontade, porque a verdadeira vida é a que se constrói todos os dias, feita de gestos, atenções e cuidados, pequenos nadas que são quase tudo."

PINTO, Margarida Rebelo, "Diário da tua Ausência", Oficina do Livro, p. 82

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

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"Foram as pessoas que olharam para o mundo e sonharam que ele podia ser diferente que o conseguiram mudar."

PINTO, Margarida Rebelo, "Diário da tua Ausência", Oficina do Livro, p. 93

terça-feira, 28 de agosto de 2007

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"Cada vez que converso contigo ou te escrevo a pedir-te que aprendas a ser livre, porque acredito que só assim conseguirás aproximar-te dos teus sonhos, respondes-me com amargura e silêncio. E eu sinto-me o homem que teve a sorte de sair da caverna e que não pôde transmitir aos seus companheiros tudo o que viu, porque não conseguiu que acreditassem nas suas palavras. Temo que tudo o que te escrevo ou digo não te sirva de nada"

PINTO, Margarida Rebelo, "Diário da tua Ausência", Oficina do Livro, p. 92

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

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Já o sol descia sobre o mar
e tu caminhavas pelo areal.

De que me serviam os dedos àquela
distância de ti
se dobrava os cabos
não conseguindo nunca dobrar
a luz velada do crepúsculo?

LEAL, Leonilde, "Basalto da Casa", Editorial Escritor, p. 36

domingo, 26 de agosto de 2007

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"O mais terrível é sentirmos a irreversibilidade do tempo. Que, mesmo quando tudo se repete, já nada se repete pela primeira vez. E que nós gastamos como borrachas na demorada corrosão das coisas. Um dia acordamos e já não é a primeira vez. A não ser quando a paixão nos diz que, nupcial e navegante, cada gesto de amor é sempre o primeiro."

COELHO, Eduardo Prado, "Nacional e Transmissível", in Jornal Público de 26/08/2007

sábado, 25 de agosto de 2007

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"O medo, essa força misteriosa que nos rouba a alegria e o sonho, devia vir no dicionário como antónimo de vontade. O medo é como um terreno minado; nunca o atravessamos mesmo que do outro lado estejam todos os nossos desejos. "

PINTO, Margarida Rebelo, "Diário da tua ausência", Oficina do Livro, pp. 30, 31

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Serenamente sem tocar nos ecos
Ergue a tua voz
E conduz cada palavra
Pelo estreito caminho.

Vive com a memória exacta
De todos os desastres
Aos deuses não perdoes os naufrágios
Nem a divisão cruel dos teus membros.

No dia puro procura um rosto puro
Um rosto voluntário que apesar
Do tempo dos suplícios e dos nojos
Enfrente a imagem límpida do mar.

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, in "No tempo Dividido", Caminho, p. 47

(Para ti J.)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

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Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pólen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...

José Gomes Ferreira

(A pensar numa amiga que partiu cruel e prematuramente)

domingo, 19 de agosto de 2007

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"(...)
Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.
(...)"

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Em todos os Jardins, exc., in "Mar", Caminho, p. 24

sábado, 18 de agosto de 2007

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"Pois ali se falava muito no passado. Constantemente nas conversas se contavam histórias das gerações anteriores, histórias dum tempo em que o existir era mais definido e mais visível, um tempo em que os sentimentos se tornavam actos e os destinos se cumpriam inteiramente"

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, "Contos Exemplares", Portugália Editora, p. 128/9

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

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(...)
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer.

Mia Couto, Pergunta-me in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas", Caminho, p.30

terça-feira, 14 de agosto de 2007

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"Uma vontade enorme de te tocar, fechar-te de novo na palma da minha mão para seres real, integrar a tua realidade na certeza da minha carne"

FERREIRA, Virgílio, "Para Sempre", Círculo de Leitores, p. 170

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

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"Não é bem a vida que faz falta - só aquilo que a faz viver."

FERREIRA, Virgílio, "Para Sempre", Círculo de Leitores, p.7

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

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"Oiço cair o tempo, gota a gota, e nenhuma gota que cai se ouve cair."

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 28

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

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"Mesmo eu, o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge. Então as coisas aparecem-me nítidas. Esvai-se a névoa de que me cerco. E todas as arestas visíveis ferem a carne da minha alma"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 61

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

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"As pessoas deviam ter mais que uma vida ou, pelo menos, uma que pudesse também andar para trás de vez em quando. Para corrigir o que saiu mal à primeira, aprender a saborear as poucas horas boas - tal como uma canção que quanto mais se ouve mais se gosta - e, sobretudo, para poder ir primeiro por um lado e depois por outro e depois, sim, seguir pelo caminho encontrado."

"PAIXÃO, Pedro, "Viver todos os dias cansa", Cotovia, p. 27