sexta-feira, 24 de agosto de 2007

...

Serenamente sem tocar nos ecos
Ergue a tua voz
E conduz cada palavra
Pelo estreito caminho.

Vive com a memória exacta
De todos os desastres
Aos deuses não perdoes os naufrágios
Nem a divisão cruel dos teus membros.

No dia puro procura um rosto puro
Um rosto voluntário que apesar
Do tempo dos suplícios e dos nojos
Enfrente a imagem límpida do mar.

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, in "No tempo Dividido", Caminho, p. 47

(Para ti J.)

3 comentários:

SILÊNCIO CULPADO disse...

São maravilhosos estes poemas que, naturalmente, dizem muito a quem os seleccionou e a mim também.
A poesia dá-nos vida e ajuda-nos a viver.

Zé-Viajante disse...

O mar sempre presente na poesia de Sophia.

poetaeusou . . . disse...

*
Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.
Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
E de novo caminho para o mar.
*
in)Sophia de Mello Breyner Andresen
*