terça-feira, 18 de dezembro de 2007

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"Como se é feliz na felicidade imaginada de quando se imagina que se foi."

FERREIRA, Virgílio, "Para sempre", Círculo de Leitores, p. 179

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

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"(...) o meu sonho começou na minha vontade, o meu propósito foi sempre a primeira ficção do que nunca fui."

PESSOA, Fernando, O Livro do Desassossego, Novis, p. 251.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

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"Há um elo secreto entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento. Evoquemos uma situação extremamente banal: um homem caminha na rua. De repente, quer lembrar-se de qualquer coisa, mas a lembrança escapa-lhe. Nesse momento, maquinalmente, o homem atrasa o passo. Pelo contrário, alguém que queira esquecer um incidente penoso que acaba de viver acelera sem dar por isso o ritmo da sua marcha como se quisesse afastar-se depressa do que, no tempo, lhe está ainda demasiado perto."

Kundera, Milan, "A lentidão", Asa, p. 31

domingo, 11 de novembro de 2007

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"De noite chovera. Aquela chuva mansa, polpa macia de dedos escorregando na face da treva, aquele frio e sedoso deslizar de lágrimas em que o rosto da serra se abria"

MELO, Guilherme de, "Como um rio sem pontes", Círculo de Leitores, p. 90

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

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"Se não fosses tu não valia a pena"

PAIXÃO, Pedro, "Nos teus braços morrerríamos", Livros Cotovia, p. 33

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

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"Sou uma figura de romance por escrever, passando aérea, e desfeita sem ter sido, entre os sonhos de quem me não soube completar."

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 174

domingo, 14 de outubro de 2007

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"A vida é o que é, e nós quase nada. Ou então somos nós que somos tudo e a vida que temos muito pouco sempre a passar. Ou então o que nós somos é esse quase chegar lá sem conseguir chegar lá e voltar atrás e recomeçar sempre por outro começo (...)"

PAIXÃO, Pedro, "Viver todos os dias cansa", Livros Cotovia, p. 111

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

do azul

do azul
da espuma
do encanto
do delírio

só o mar
só o mar


só o mar

Jorge Casimiro, "murmúrios ventos", Editora Pássaro de Fogo, p. 94

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Dedo Apontado

Aponto o dedo para a Lua,
e a luz branca escorre, lenta,
pelo escuro.
No Tejo uma falua,
desgarrada,
que, condenada,
foge do próprio futuro.
Nem uma nuvem tolda o meu presente,
que desliza, inconsciente,
para o nada.
O silêncio é a verdade nua e crua.
Algures, morre o passado,
e eu estou ausente.
Com o dedo apontado para a Lua.

Manuel FIlipe, "Tempo de Cinza", Editora Apenas, p. 51

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

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"Há noites em que me debruço sobre a minha vida como se fosse um poço, e quase caio. Olho para baixo e é um agudo abismo. Então penso que talvez me faça falta um Deus, ou alguma coisa como um Deus, em cujos fortes braços eu me pudesse amparar. Felizmente tais momentos de desânimo são muito raros. A maior parte das vezes passo muito bem sem Deus, sem anjos, sem a ideia de um paraíso ou de um inferno."

HAYAT, Faíza, "O fim de Deus" in Pública de 23/09/2007

domingo, 23 de setembro de 2007

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"Como gostava de ser um dos meus gatos que não põe em questão o imenso trabalho de ter, sempre e inutilmente, de justificar a sua vida"

PAIXÃO, Pedro, "Cala a minha boca com a tua", Livros Cotovia, p. 91

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

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Se numa tarde encostei o olhar ao vidro
Embaciei-me de dúvidas quando te reflecti.
Virás tu parar nesta imprudência íngreme,
que é a encosta do amor?

SALAZAR, Tiago, O Poema Íngreme, in Tantas Mãos a mesma Primavera, Oficina do Livro, p. 65

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

...

"Perco-me se me encontro, duvido se acho, não tenho se obtive. Como se passeasse, durmo, mas estou desperto. Como se dormisse, acordo, e não me pertenço. A vida, afinal, é, em si mesma, uma grande insónia, e há um estremunhamento lúcido em tudo quanto pensamos e fazemos."

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 160

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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"Gostava que a tua casa fosse o meu coração, como um botão que encontrou o seu lugar, porque a nossa casa é o único lugar do mundo onde podemos descansar, onde nos compreendem mesmo quando nós não nos conseguimos perceber".

PINTO, Margarida Rebelo, "Diário da tua Ausência", Oficina do Livro, p. 70

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

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"Só acredito em paixões impossíveis", dissera-lhe ela antes do primeiro beijo: "Os amores possíveis não têm nada a ver com o amor":
Com aquela frase estabelecera as regras e os limites. Nunca lhe dissera que seria para sempre, ao contrário, insistira: "Não haverá amanhã!". E cumprira. Acontece que o que perdura, o que nunca conseguiremos esquecer, não é o que temos como certo, o que está ao alcance dos dedos e do vulgar desejo, o que sabemos que durará para sempre, mas o que não será nosso - se acaso algum dia fôr - senão por um brevíssimo instante. Um fulgor."

AGUALUSA, José Eduardo, "Depois que o Verão termina" (exc.), in Pública, 9/09/2007

(Recomendo o texto completo. Não o coloco aqui por inteiro, por ser bastante extenso)

domingo, 9 de setembro de 2007

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Evadir-me, esquecer-me, regressar
À frescura das coisas vegetais,
Ao verde flutuante dos pinhais
Percorridos de seivas virginais
E ao grande vento límpido do mar.

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, "Dia do Mar", Caminho, p. 58

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

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"Do alto da duna via-se a tarde toda como uma enorme flor transparente, aberta e estendida até aos confins do horizonte."

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, "Contos Exemplares", Portugália Editora, p. 148

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

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Tive amigos que morriam, amigos que partiam
Outros quebravam o seu rosto contra o tempo.
Odiei o que era fácil!
Procurei-me na luz, no mar, no vento.

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, "Mar", Caminho, p. 72

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

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Aquelas cujos ombros se extinguiram
Contra os muros dum quarto misterioso
Onde há uma janela voltada para longe

Aquelas em cujos olhos não há cor
À força de fitarem o vazio
Que vai e vem entre o horizonte e elas

Aquelas cujo desespero cai
De todo o céu a pique sobre a terra,
Imutável e completo, igual
Ao silêncio do mar sobre os naufrágios.

Elas são aquelas que esperaram
Que todas as promessas se cumprissem
E que nos cegos deuses confiaram.

BREYNER, Sophia de Mello Breyner, "Dia do Mar", Caminho, p. 94

domingo, 2 de setembro de 2007

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Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Porquê jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Porquê o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, "Dia do Mar", Caminho, p. 82

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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Em nome da tua ausência
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei.

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, "11 Poemas", Movimento, p. 17

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

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"Não bastam dias de sonho, semanas de paixão, meses de elevação e vontade, porque a verdadeira vida é a que se constrói todos os dias, feita de gestos, atenções e cuidados, pequenos nadas que são quase tudo."

PINTO, Margarida Rebelo, "Diário da tua Ausência", Oficina do Livro, p. 82

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

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"Foram as pessoas que olharam para o mundo e sonharam que ele podia ser diferente que o conseguiram mudar."

PINTO, Margarida Rebelo, "Diário da tua Ausência", Oficina do Livro, p. 93

terça-feira, 28 de agosto de 2007

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"Cada vez que converso contigo ou te escrevo a pedir-te que aprendas a ser livre, porque acredito que só assim conseguirás aproximar-te dos teus sonhos, respondes-me com amargura e silêncio. E eu sinto-me o homem que teve a sorte de sair da caverna e que não pôde transmitir aos seus companheiros tudo o que viu, porque não conseguiu que acreditassem nas suas palavras. Temo que tudo o que te escrevo ou digo não te sirva de nada"

PINTO, Margarida Rebelo, "Diário da tua Ausência", Oficina do Livro, p. 92

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

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Já o sol descia sobre o mar
e tu caminhavas pelo areal.

De que me serviam os dedos àquela
distância de ti
se dobrava os cabos
não conseguindo nunca dobrar
a luz velada do crepúsculo?

LEAL, Leonilde, "Basalto da Casa", Editorial Escritor, p. 36

domingo, 26 de agosto de 2007

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"O mais terrível é sentirmos a irreversibilidade do tempo. Que, mesmo quando tudo se repete, já nada se repete pela primeira vez. E que nós gastamos como borrachas na demorada corrosão das coisas. Um dia acordamos e já não é a primeira vez. A não ser quando a paixão nos diz que, nupcial e navegante, cada gesto de amor é sempre o primeiro."

COELHO, Eduardo Prado, "Nacional e Transmissível", in Jornal Público de 26/08/2007

sábado, 25 de agosto de 2007

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"O medo, essa força misteriosa que nos rouba a alegria e o sonho, devia vir no dicionário como antónimo de vontade. O medo é como um terreno minado; nunca o atravessamos mesmo que do outro lado estejam todos os nossos desejos. "

PINTO, Margarida Rebelo, "Diário da tua ausência", Oficina do Livro, pp. 30, 31

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

...

Serenamente sem tocar nos ecos
Ergue a tua voz
E conduz cada palavra
Pelo estreito caminho.

Vive com a memória exacta
De todos os desastres
Aos deuses não perdoes os naufrágios
Nem a divisão cruel dos teus membros.

No dia puro procura um rosto puro
Um rosto voluntário que apesar
Do tempo dos suplícios e dos nojos
Enfrente a imagem límpida do mar.

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, in "No tempo Dividido", Caminho, p. 47

(Para ti J.)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

...

Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pólen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...

José Gomes Ferreira

(A pensar numa amiga que partiu cruel e prematuramente)

domingo, 19 de agosto de 2007

...

"(...)
Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.
(...)"

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Em todos os Jardins, exc., in "Mar", Caminho, p. 24

sábado, 18 de agosto de 2007

...

"Pois ali se falava muito no passado. Constantemente nas conversas se contavam histórias das gerações anteriores, histórias dum tempo em que o existir era mais definido e mais visível, um tempo em que os sentimentos se tornavam actos e os destinos se cumpriam inteiramente"

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, "Contos Exemplares", Portugália Editora, p. 128/9

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

...

(...)
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer.

Mia Couto, Pergunta-me in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas", Caminho, p.30

terça-feira, 14 de agosto de 2007

...

"Uma vontade enorme de te tocar, fechar-te de novo na palma da minha mão para seres real, integrar a tua realidade na certeza da minha carne"

FERREIRA, Virgílio, "Para Sempre", Círculo de Leitores, p. 170

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

...

"Não é bem a vida que faz falta - só aquilo que a faz viver."

FERREIRA, Virgílio, "Para Sempre", Círculo de Leitores, p.7

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

...

"Oiço cair o tempo, gota a gota, e nenhuma gota que cai se ouve cair."

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 28

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

...

"Mesmo eu, o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge. Então as coisas aparecem-me nítidas. Esvai-se a névoa de que me cerco. E todas as arestas visíveis ferem a carne da minha alma"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 61

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

...

"As pessoas deviam ter mais que uma vida ou, pelo menos, uma que pudesse também andar para trás de vez em quando. Para corrigir o que saiu mal à primeira, aprender a saborear as poucas horas boas - tal como uma canção que quanto mais se ouve mais se gosta - e, sobretudo, para poder ir primeiro por um lado e depois por outro e depois, sim, seguir pelo caminho encontrado."

"PAIXÃO, Pedro, "Viver todos os dias cansa", Cotovia, p. 27

segunda-feira, 30 de julho de 2007

...

"Vivemos um entreacto com orquestra"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 65

sexta-feira, 27 de julho de 2007

...

"As pessoas deviam ter mais cuidado. Com o que dizem, com o que fazem. Se bem que se tiverem demasiado cuidado não dizem nem fazem nada. As pessoas deviam ser mais pessoas, embora não me convenha perguntar agora o que quero precisamente dizer com isso."

PAIXÃO, Pedro, "Viver todos os dias cansa", Livros Cotovia, p.28

terça-feira, 24 de julho de 2007

...

"Feliz quem não exige da vida mais do que ela espontaneamente lhe dá, guiando-se pelo instinto dos gatos, que buscam o sol quando há sol, e quando não há sol, o calor onde quer que esteja."

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 154

segunda-feira, 23 de julho de 2007

...

"Se um homem escreve bem só quando está bêbado dir-lhe-ei: embebede-se. E se ele me disser que o seu fígado sofre com isso, respondo: o que é o seu fígado? É uma coisa morta que vive enquanto você vive, e os poemas que escrever vivem sem enquanto."

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego",Novis, p. 171

sábado, 21 de julho de 2007

...

"... a tristeza solene que habita em todas as coisas grandes - nos píncaros como nas grandes vidas, nas noites profundas como nos poemas eternos"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 154

terça-feira, 17 de julho de 2007

...

"Ler é sonhar pela mão de outrém"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 152

sexta-feira, 13 de julho de 2007

...

"Somos responsáveis por aquilo que fazemos, pelo que não fazemos e pelo que impedimos de fazer"

Albert Camus

quinta-feira, 12 de julho de 2007

...

"Tudo quanto fazemos, na arte ou na vida, é a cópia imperfeita do que pensámos em fazer"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 115

segunda-feira, 9 de julho de 2007

...

"Talvez amanhã desperte para mim mesmo, e reate o curso da minha existência própria"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 96

terça-feira, 3 de julho de 2007

...

"O mal romântico é este: é querer a lua como se houvesse maneira de a obter"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 42

domingo, 1 de julho de 2007

...

"A nossa vida de adultos reduz-se a dar esmolas aos outros. Vivemos todos da esmola alheia. Desperdiçamos a nossa personalidade em orgias de coexistência"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 141

sábado, 30 de junho de 2007

...

"Podemos desejar deter um INSTANTE, que o tempo PARE de rodar e nos permita SABOREAR o que foge, mas tal não é possível"

JANER, Maria de La Pau, "As mulheres que há em mim", Dom Quixote, p. 146

quinta-feira, 28 de junho de 2007

...

"O peso de ter que sentir!"

PESSOA, Fernando, O livro do Desassossego, Novis, p. 95

domingo, 24 de junho de 2007

...

"O sol e o dia brilham mas sem ti
Talvez não sejam mais o sol e o dia.
O sol e o dia agora
Estão lá onde o teu sorriso mora
E não aqui.
(...)"

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, "No tempo Dividido", Caminho, p. 37

quarta-feira, 20 de junho de 2007

... para Verdade

"Porque a verdade das palavras não está na sua verdade mas na coerência com o momento em que se dizem"

FERREIRA, Virgílio, "Para sempre", Círculo de Leitores, p. 212

terça-feira, 19 de junho de 2007

...

"A sorte grande da vida sai somente aos que compraram por acaso"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 228

sexta-feira, 15 de junho de 2007

... para Surpresa

"Nunca deixo saber aos meus sentimentos o que lhes vou fazer sentir ..."

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 231

quinta-feira, 14 de junho de 2007

... para Diferença

"É possível a certas almas sentir uma dôr profunda por a paisagem pintada num abano chinês não ter três dimensões"

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 230

terça-feira, 12 de junho de 2007

... para Explicação

"A intensidade das emoções reclama-nos uma atenção que impede que possamos pensar noutras coisas, óbvias talvez, ou até mais imediatas."

JANER, Maria de La Pau, "As mulheres que há em mim", Dom Quixote, p. 121

segunda-feira, 11 de junho de 2007

... para Tango



Morelenbaum/Sakamoto, "Tango"

sábado, 9 de junho de 2007

... para Equilíbrio (*)

Numa mão os sonhos
O que nunca terei,
Noutra a realidade.
É por isso que não ando direita,
Não encontro o equilíbrio
Entre uma mão cheia de nada
E outra cheia de talvez.


Encandescente, Equilíbrio (*), "Palavras Mutantes", Editora Polvo, p.31

sexta-feira, 8 de junho de 2007

... para Silêncio



"(...)
And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more.
People talking without speaking,
People hearing without listening,
People writing songs that voices never share
And no one deared
Disturb the sound of silence.

Fools said i,you do not know
Silence like a cancer grows.
Hear my words that I might teach you,
Take my arms that I might reach you.
But my words like silent raindrops fell,
And echoed
In the wells of silence
(...)"

quinta-feira, 7 de junho de 2007

... para Separação

"Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo"


FILIPE, Daniel, "A invenção do Amor e Outros Poemas", Editorial Presença, p.26

domingo, 3 de junho de 2007

... para Provérbio (*)

"A noite é a nossa dádiva de sol aos que vivem do outro lado da Terra."

OLIVEIRA, Carlos de, Provérbio, "Sobre o Lado Esquerdo", Dom Quixote, p. 21

sexta-feira, 1 de junho de 2007

... para Confidência (*)

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem retorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome

Mia Couto, (*) Confidência, "Raiz de Orvalho", Caminho, p.23/4

quarta-feira, 30 de maio de 2007

para Vida ...

"(...) é um novelo que alguém emaranhou."

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 218

segunda-feira, 28 de maio de 2007

... para Cegueira

"Temos pressa de chegar onde estamos e não alcançamos."

PAIXÃO, Pedro, "Nos teus braços morreríamos", Cotovia, p. 106

sábado, 26 de maio de 2007

para Impossibilidade

"Vejo-me sentado diante de mim e comovo-me tremendamente."



PAIXÃO, Pedro, "Cala a minha boca com a tua", Cotovia, p. 74

sexta-feira, 25 de maio de 2007

... para Poema

"(...) é um justo acorde de palavras, um equilíbrio de sílabas, um peso denso, o esplendor da linguagem, um tecido compacto e sem falha que apenas fala de si próprio e, como um círculo, define o seu próprio espaço e nele nenhuma coisa mais pode habitar."



ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, "Contos Exemplares", Portugália Editora, p. 180

quinta-feira, 24 de maio de 2007

... para Contradição

"O único modo de estarmos de acordo com a vida é estarmos em desacordo com nós próprios."

PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego", Novis, p. 22/3

quarta-feira, 23 de maio de 2007

... para Crer

"(...) a Fé começa precisamente onde a razão acaba."

Kierkegaard, citado por Ernesto Sabato, "Resistir", Dom Quixote, p.129

terça-feira, 22 de maio de 2007

segunda-feira, 21 de maio de 2007

... para Sabedoria

"Ver claro é não agir."

PESSOA, Fernando, "O livro do Desassossego", Novis, p. 181

sábado, 19 de maio de 2007

... para Risco

"(...) creio que a liberdade que está ao nosso alcance é maior do que aquela que nos atrevemos a viver."

SABATO, Ernesto, "Resistir", Dom Quixote, p. 30

quinta-feira, 17 de maio de 2007

... para Insignificância

" Um nada fica a lembrar-se para sempre (...)"

FERREIRA, Virgílio, "Para sempre", Círculo dos Leitores, p.180

quarta-feira, 16 de maio de 2007

... para Forma de Luz

"E é quase só o que ficou. Uma luz condensada táctil, esquadriada com rigor, luz calma, poisada nas coisas sem as trespassar, percorrendo-lhes apenas o relevo para emergirem inteiras na suavidade da manhã."

FERREIRA, Virgílio, "Para Sempre", Círculo de Leitores, p. 181

segunda-feira, 14 de maio de 2007

... para Sopro

"A brisa vaga dos grandes bosques respirava com som entre o arvoredo."

PESSOA, Fernando, "O livro do Desassossego". Novis, p. 188

sábado, 12 de maio de 2007

... para (Des)Espera

"Porque a espera, a espera das coisas fantásticas, visíveis e reais, a espera das coisas destinadas, prometidas, pressentidas, ia-se tornando quase lucidamente alucinada."

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos Exemplares, Portugália, p.130

sexta-feira, 11 de maio de 2007

... para Submissão

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

MAIAKOVSKY, (excerto)

quarta-feira, 9 de maio de 2007

... para Recordação

"Às vezes, de repente, no fundo dos espelhos havia um brilho que era o brilho duma hora antiga."

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, "Contos Exemplares", Portugália, p.129

terça-feira, 8 de maio de 2007

... para Desespero

"Não vale a pena continuar em frente, nem sequer para o lado se já não temos por quem."

PAIXÃO, Pedro, "Nos teus braços morreríamos", Cotovia, p.105

segunda-feira, 7 de maio de 2007

... para Amor

"Naquela noite fizemos o que mais gostávamos, perdermo-nos nos olhos um do outro."

PAIXÃO, Pedro, "Quase gosto da vida que tenho", Quetzal Editores, p. 167

domingo, 6 de maio de 2007

... para Mãe

Infância

Não minha mãe. Não era ali que estava.
Talvez noutra gaveta. Noutro quarto.
Talvez dentro de mim que me apertava
contra as paredes do teu sexo-parto.

A porta que entretanto atravessava
talhada no teu ventre de alabastro
abria-se fechava dilatava.
Agora sei: dali nunca mais parto.

Não minha mãe. Também não era a sala
nem nenhum dos retratos de família
nem a brisa que a vida já não tem.

Talvez a tua voz que ainda me fala ...
... o meu berço enfeitado a buganvília ...
Tenho tantas saudades, minha mãe!

ARY DOS SANTOS, José Carlos, Obra Poética, Edições Avante

sábado, 5 de maio de 2007

... para Morte

"O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela."

PESSOA, Fernando, O Livro do Desassossego, Novis, p.122

terça-feira, 1 de maio de 2007

... para esperança

"Esta ideia circular do tempo favorecia uma visão diferente da vida. Se soubermos que as folhas vão voltar a encher os ramos das árvores, não nos deixamos levar pela desconfiança ao vê-las desaparecer. Não olhamos para as últimas, antes de cairem, com a expressão esfomeada do que se perde e se torna irrecuperável. (...) Tudo irá renascer de novo, numa ânsia de viver que corresponde a um mundo que regresssa sempre."

JANER, Maria de la Pau, "As mulheres que há em mim", Dom Quixote, p. 167

segunda-feira, 30 de abril de 2007

... para ausência


"Dizia-me que a nostalgia era chegar a casa e encontrar-se com a ausência"

Janer, Maria de la Pau, As mulheres que há em mim, Dom Quixote, p.86
(Foto minha)